Não se compara Maradona com Pelé, mas com Senna

José Ricardo Garcia
2 min readNov 25, 2020

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Eu nunca tinha me conformado com o fato do Brasil não reverenciar Pelé como o argentino reverencia Maradona. Não sei se é obvio pra muita gente, mas eu só me toquei do meu erro hoje: Eu não deveria comparar Maradona com Pelé. Deveria comparar com Senna.

Pelé foi rei, foi gênio, foi deus, mas deu azar: Levantou a bandeira do seu país quando os símbolos nacionais estavam sequestrados pelo autoritarismo. Amo Pelé, mas não vou negar que ele também nunca fez questão de se opor a isso.

Maradona e Senna deram a sorte de serem as pessoas certas e estarem na hora certa pra promover a redenção nacional. Seja Maradona em 1986 ou Senna entre 1988 e 1991, ambos botaram a bandeira de seus respectivos países no lugar mais alto na hora em que era necessário. Ambos países quebrados economicamente, ambos recolhendo os cacos de suas sociedades pós-ditaduras, ambos precisando de autoestima nacional: Ambos países tiveram seus heróis.

Maradona “vingou” a derrota argentina nas Malvinas com um gol safado de mão e um dos gols mais espetaculares da história contra a Inglaterra, assim como Senna “vingou” os anos de sucateamento brasileiro vencendo em Interlagos depois de perder cinco das seis marchas do seu carro. Em toda sua vida intensa (considerada errática por muitos, mas não por mim), Maradona precisava driblar suas próprias limitações e defeitos antes de (esse sim) dar alegria pro seu povo. Senna, de uma forma completamente diferente, fazia o mesmo. Definir Diego Armando Maradona como louco, “drogado” ou mau exemplo é não ter a menor noção do que é ser um dependente químico e da intima relação que a dependência química tem com a genialidade. Como bem definiu Roberto Gomes Bolaños, um herói latino-americano é o que primeiro vence suas dificuldades e limitações, pra depois salvar o dia.

Diego não é maior que Pelé, mas eu dou todo direito a qualquer argentino dizer que é. Da mesma forma que Lewis Hamilton, gênio, pode ganhar mais 90 títulos que eu jamais vou considerá-lo maior que Senna.

Y que el Pibe se vaya con D10s.

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José Ricardo Garcia

Perdão que perdi o pique, mas se a vida é um piquenique, basta um herói de butique dos chiques profissionais.